domingo, 27 de junho de 2010

A vingança é um prato que se come quente

Em minha sala um lavrador de pés expostos ao vento, chinelo velho, camisa amassada da gaveta, não usara social desde o casamento infeliz de sua filha, pede licença, com sotaque de sinhor vem se aproximando de minha mesa. Senta-se. –Sinhor, preciso muito da ajudia de vossa sinhoria. Exclama humilde o pobre homem, com lágrimas no olho a secar, olheiras de dias sem dormir, pobre homem, pobre. Sua mulher havia falecido em seus braços, berrava de dor com o rosto todo queimado, espumava sangue em tom alaranjado com gritos fortes, verozes, era o inferno expondo sua atuação humana, horrível. Seu rosto inchava como uma bola de fogo a queimar sem parar, até que o sangue derramado acabara com a dor aparentemente interminável da pobre mortal. Morrera nos braços do velho companheiro.
Era o início do fim na vida do homem, que perdera a companheira de café, de travesseiro, dos felizes dias de chuva, de sol. –Sinto muito meu senhor, sou assistente social e não psicólogo, nada posso fazer.
-Sinhor, por favoir, não faça isso comigo.Tô passando necessidade na minha casinha,que nem minha é,nem isso eu tenho,nem isso esse guverno me deu.Cadê o minha casa minha vida? Minha vida ta fudida,minha casa num tenho até hoje doutor.
A situação mudara de figura, o problema não era mais psicológico, ou não tão aparente assim. A velha traía o coitado homem, eram três caboclos lavradores, com braços enormes, pareciam os mulatos da Escrava Isaura. O homem no fundo sabia do chifre que carregava, mas não vinha procurar um ombro amigo, queria recursos para viver dignamente, sem problemas. Era funcionário da Le Café de muito tempo, desde os primórdios da empresa instalada no Nordeste do país, que mais tarde se expandiria por todo o território.
-Vou analisar sua situação, seus documentos de trabalho e suas condições de vida. Em breve vou até sua casa e aí vemos como tudo fica.
O homem, branco como uma folha de papel, muda de figura; -Não carece o doutor perder o precioso tempo em ver tamanho desconforto em meu pobre barraco sinhor. Pressionado por mim para contar tamanho medo, o vagabundo declarou ter queimado o rosto da mulher, com água quente, fervendo, no sol de queimar plantações, rindo no gozo eterno da vingança felicitada. O prazer era tanto que seu fetiche por fogo era queimado a queima roupa, no eterno prazer da carne que se transformara na mais cruel das vontades.

3 comentários:

  1. seu blog é muito bom ,e os textos que já li tbm
    tô seguindo

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  2. caramba!!!

    esse foi cruel
    mais realista

    no sentido em que acontece sempre
    vamos assim dizer

    e nao jogado na forma literal tb
    rsrs

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