domingo, 4 de julho de 2010

Um homem...

No estilo de Londres Vitoriana, apartamento abarrotado pelo aroma dos livros desorganizados em cada prateleira do amplo escritório ao oeste do apartamento alugado, vive aquele homem sarcástico, veroz, com humores secos, fumante dos mais sofisticados charutos, apreciador dos melhores Wiskys do mundo, sem dinheiro esbanjador para as outras coisas da vida, gastava-se com suas esbanjações. Era magro, alto, vivia em constantes depressões existenciais, fruto de sua solidão adorada, jamais trocada por compania fixa, que acabara com seu tempo de trabalho. Escritor paulista, com ares parisienses e londrinos, caseiro por natureza convencional da situação, passava horas em frente ao computador, posto na vasta mesa de madeira pesada, escura, repleta de papéis e outras bugigangas de escritório, à frente de uma repleta prateleira de livros, que iam de Conan Doyle a Lispector.
Sair de casa era uma ação quase desnecessária, trabalhara muito, cumprindo seu dever mesmo sem tê-lo, muitas vezes. Sua empregada estava sempre pronta, sempre ao seu lado, era ela que preparava o café de todas as manhãs, o almoço leve, e deixara todas as tardes o café fresco na cozinha, o jantar era por conta dele, que ficava ainda mais sozinho nas noites escuras da capital paulista. Seu encontro com os boêmios não era assim tão frequente, mas sempre que o convidavam, aproveitava. Nunca pagava a conta, mesmo quando a mesma extrapolava os limites racionais de um alcoólatra, que não era, mas andava com.
Escrever artigos nunca fora tão difícil assim, o problema era vendê-los para o jornal. –Ah se tivesse nascido na época do Império, tudo seria mais fácil. Exclamava em suas depressões contínuas de desgostos com a vida. Buscara sempre alternativas para estar um pouco mais feliz, só um pouco. Sua tv era aliada de batalhas a noite, vendo séries de renomes e estilos iguais ao seu, era o conforto das desilusões que tais modos de vida o causavam, é bom ver que alguém faz as mesmas coisas que ele, ou ele as mesmas que os personagens americanos. É uma troca que só ele recebe as informações, o personagem, não.
O que poderia fazer para estar melhor nos dias da profunda vastidão de sentimentos indesejáveis? Antidepressivos? Compania? Era o doce amargo sabor da vida que escolhera para si, que passara horas imaginando ter, e assim foi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário