sábado, 26 de junho de 2010

Dramas da vida

Um conto definido como conto e nada mais. Espero que gostem!

Recém formado com sede de mudança, assim sou nestes tempos de crise. É um prédio comum,simples, resolvi trabalhar por conta própria, governo agora não, pra que fazer parte disso? Chego cedo, bem cedo, estou lá as sete, só o porteiro tomando sua caneca de café, dada por um condômino advogado, trazido de sua viagem aos EUA. A porta rústica de madeira, com meu nome sobrepõem o estilo das outras salas do vasto corredor comercial, do prédio que abriga de tudo, de todos. São advogados competentes e de porta de cadeia, dentistas que fumam cigarrilhas que amarelam os dentes, homens de preto, de branco, só não tem luz vermelha, o prédio é sério, o dono um turco de família, homem rico, bem de vida, transparece seriedade no bigode voraz. Vejo de tudo ao mesmo tempo que não posso ver nada, a realidade não permite o senso explícito total das coisas, não mesmo.
Minha secretária chega as oito, tomo meu café e leio o jornal deixado pelo boy do prédio, notícias vem e vão e só o caderno cotidiano pode vir a me interessar. A realidade parece nunca mudar, mesmo com os surtos do governo, aqueles que falam muito, fazem pouco, ou quase nada. É o discurso populista que invade as ruas, os becos, os carros de som, o subconsciente do mendigo faminto, é terrível. A cruel descentralização de riquezas afeta todos, sem exceção, do que toma pinga no boteco na esquina ao que fuma charuto no barre français. Uns dormem na culatra dos senhores, barões que se desenvolveram no processo capitalista, profícuo por sinal. Erros são naturais, consertos não acontecem, fazer o quê?
Eu faço minha parte, todos os dias para os brasileiros, tous les jours para os poliglotas.
Já fiz voluntariado, agora só trabalho com assessoria, desenvolvendo projetos no âmbito social, abrangendo suas diversas esferas de atuação, mas o movimento anda fraco com toda esta crise social, não econômica, e sim social. O que consegui foi uma parceria com uma grande empresa de porte nacional, produtores de café, algo milionário que gera centenas de dezenas de empregos as famílias de todo o Brasil, do norte ao sul, em todos os setores de atuação, dos transportes à colheita, é um tamanho inimaginável de dinheiro gerado todos os meses pela Le Café. Com o alto custo de produção e absurdos impostos cobrados pelo governo brasileiro, a mega empresa precisou investir em programas sociais que mudassem mesmo a vida das pessoas, foi aí que eu comecei a fazer parte do negócio.
Nicolaz me chamou em sua sala, uma tarde fria de inverno paulista,com fortes ventos e aquela chuva fina caindo sobre as cabeças urbanas. -Sr.Veloso, sente-se.Quero falar com você sobre o novo plano de ação da empresa.
A partir das palavras daquele bem aperfeiçoado francês, comecei a desenvolver o tal novo plano de ação da empresa, completamente voltado para a área social, mais especificamente no atendimento a funcionários e suas famílias, mapeamento dos problemas que viviam cotidianamente, proposituras de melhoras e ajuda imediata para que a qualidade de vida de cada trabalhador e sua família fosse garantida, gerando assim uma maior produção para empresa em termos de contentamento da classe trabalhadora, aliada a redução real de tributos. Quer coisa melhor que isso?
Estes dramas familiares, individuais e grupais, simples e compostos, se tornaram temas do meu trabalho diário.

3 comentários:

  1. Muito massa! Interessante mesmo! Parabéns!

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  2. Adorei...vc escreve com a alma;;;
    parabéns
    bjus

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  3. " Uns dormem na culatra dos senhores, barões que se desenvolveram no processo capitalista, profícuo por sinal. Erros são naturais, consertos não acontecem, fazer o quê? "

    Apenas um conto,com gotas derramadas pela realidade.Parabeins meu amigo, escreve muito bem.

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